quarta-feira, 5 de novembro de 2008

Cora Coralina

Eu Voltarei
Meu companheiro de vida será um homem corajoso de trabalho, servidor do próximo, honesto e simples, de pensamentos limpos. 
Seremos padeiros e teremos padarias. Muitos filhos à nossa volta. Cada nascer de um filho será marcado com o plantio de uma árvore simbólica. A árvore de Paulo, a árvore de Manoel, a árvore de Ruth, a árvorede Roseta. 
Seremos alegres e estaremos sempre a cantar. Nossas panificadoras terão feixes de trigo enfeitando suas portas, teremos uma fazenda e um Horto Florestal. Plantaremos o mogno, o jacarandá, o pau-ferro, o pau-brasil, a aroeira, o cedro. Plantarei árvores para as gerações futuras.
 Meus filhos plantarão o trigo e o milho, e serão padeiros. Terão moinhos e serrarias e panificadoras. Deixarei no mundo uma vasta descendência de homens e mulheres, ligados profundamente 
ao trabalho e à terra que os ensinarei a amar. 
E eu morrerei tranqüilamente dentro de um campo de trigo ou milharal, ouvindo ao longe o cântico alegre dos ceifeiros. Eu voltarei... A pedra do meu túmulo será enfeitada de espigas de trigo e cereais quebrados minha oferta póstuma às formigas que têm suas casinhas subterra e aos pássaros cantores que têm seus ninhos nas altas e floridas frondes.
Eu voltarei...

terça-feira, 4 de novembro de 2008

Palavras de Katherine Mansfield

Há momentos em que esses pensamentos me deixam meio assustada e quase me convencem. Eu digo: “Você agora está tão satisfeita consigo mesma, por estar viva, por viver, por aspirar a um sentido maior para a vida e a um sentimento de amor mais profundo, que aquela outra coisa se foi de você.” Mas não, não estou convencida, pois no fundo jamais meu desejo foi tão ardente.

dos diários de Katherine Mansfield, 1915/1916


Paris, 23 de janeiro de 1922.

"Não esquecer o ruído do vento - essa angústia especial que se sente quando o vento sopra. O vento da primavera, doce e tépido, que nos aspira o coração. O vento (...) que sacode o jardim, à noitinha, quando saímos a correr... O vento de verão, alegre, que se balança nas árvores. E o vento que passa sobre a erva e a faz estremecer. Isto provoca em mim uma comoção que nunca pude explicar."